segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Escrever? Porque não?

Bom, eu não sei se alguém vai ler isso, não sei se vai dar certo, e muito menos se vai ter continuidade, na verdade pode ser que eu nem poste mais aqui (há uma grande probabilidade de isso acontecer!). Mas em todo o caso, eu acordei hoje com vontade de escrever, e não escrever qualquer coisa, mas escrever um livro! Que coisa louca não? Com certeza, mas quem sabe eu não descubro uma veia artística em mim não é mesmo? Bom, a título de informação, a proposta desse blog é escrever um livro, capítulo a capítulo, e no final, juntar tudo e transformar num enorme encosto de porta, mas, meu encosto de porta, então todos os textos são meus,  vieram da minha cabeça, e se você quiser publicar alguma coisa me consulte antes. No mais, divirtam-se, deem  as suas opiniões, boas ou ruins, e se gostarem divulguem. Boa sorte (vocês vão precisar) e bom divertimento

Prólogo

Era uma tarde corriqueira, nada de especial, nada de muito ruim, apenas uma tarde como qualquer uma das muitas tardes dos vinte e quatro anos da vida de Douglas. Como de costume, ele havia acordado cedo, colocado o modo “soneca” de seu telefone celular pelo menos umas duas ou três vezes, protelando o pior momento de todos do dia: o de levantar de sua cama.  Ele acordou, levantou-se e foi ao banheiro. Desta vez o banho foi longo e quente. Mais uma vez ele se lembrou de sua cama. Por mais tentadora que fosse  a idéia de voltar e dar mais uma cochilada, ele sabia que não poderia, afinal, tinha um compromisso inadiável todas as manhãs com o seu maçante e desanimador estágio. Não que o estágio fosse ruim, ou péssimo ou que não acrescentasse nada em sua vida, ele apenas não tinha vontade nenhuma de ir. Mas era isso que pagava algumas de suas poucas regalias como a internet banda larga ou o cinema com a namorada.
        Douglas trabalhava em uma instituição de ensino governamental, não era propriamente uma escola, mas proporcionava aos menos favorecidos a possibilidade de aprender algum ofício, tornando as suas vidas melhores. Isso era uma boa coisa e Douglas podia pensar: Estou fazendo a diferença! Ou então: O meu trabalho pode estar transformando alguém em uma pessoa melhor para o mundo! Mas isso não era verdade. Papéis, relatórios, burocracia. Na realidade, não estava ajudando ninguém. Pior: ele estava perdendo sua vida, e, cada dia que passava, pensava que tinha um dia a menos, tornando sua vida uma eterna contagem regressiva até o dia de sua morte.
        O que nosso intrépido amigo não pensava era que o mundo é movido por fatos aleatórios e que todas as coisas do universo são movidas a probabilidades. Imagine dessa forma: Você está apressado para chegar ao seu dentista e corre para atravessar uma rua. Distraído, não percebe que um carro vem em sua direção. São milhões de probabilidades fervilhando contra você e outras milhões ao seu favor. Será que você vai tropeçar? Será que vai encontrar uma moeda no chão e parar na calçada antes da fatídica hora e evitar um trágico acidente? Ninguém sabe ao certo não é? Ou será que sabe? Com certeza Douglas não sabia que toda essa conspiração universal convergia nessa pessoa desinteressante que ele intitulava simplesmente com “eu”.
        Douglas não iria ao dentista essa tarde. Na verdade detestava os dentistas e achava que, principalmente os ortodontista, tinham como matérias de estudo da faculdade alguma coisa parecida com “tortura I”, ou “requintes de crueldade avançado”, e que estes eram a personificação do personagem “Jason” de um filme de terror muito famoso. Tudo isso foi fundado nas suas experiências pessoas e em um tratamento, ainda em curso, que o motivava a cada dia odiar mais e mais essas singelas criaturas.
        Retornando à aquela tarde (era uma tarde comum mesmo!), ele pegara o ônibus lotado de sempre, e se espremia em busca de um assento, ou de talvez um pouco de oxigênio.  O seu destino era a universidade, onde passava todos os seus fins de tarde e noite estudando no curso direito (que na sua concepção, de direito não tinha nada) e procurando o que todo mundo quer: uma vida melhor num futuro. O tempo dentro de um ônibus é diretamente proporcional ao tempo de um orgasmo. Como no orgasmo segundos parecem horas, dentro de um ônibus lotado, com vários desconhecidos e aquela musica “ambiente” insuportável, os minutos pareciam anos.
        Inconscientemente, Douglas puxou de sua velha e rasgada mochila um par de fones de ouvido e o plugou em seu aparelho de telefone, sentindo um alívio inexplicável quando sua “playlist” começou a tocar. A sua trilha sonora era, com certeza, muito mais interessantes do que o sertanejo universitário emitido do rádio à pilha de um rapaz sentado no banco à sua frente. Douglas pensou por um minuto sobre como esse tipo de música tinha, de uns tempos pra cá ganhado uma grande repercussão na mídia brasileira e o quanto ruim era aquilo aos seus ouvidos, mas não perdeu muito tempo nisso, e logo voltou ao lugar que ele se sentia mais confortável, a sua mente.
        Por vários minutos as musicas tocaram, as pessoas se colidiam e caras novas surgiam dentro do transporte enquanto as ruas passavam. Ninguém estava prestando atenção em Douglas e muito menos ele prestava atenção em alguém em especial. Foi neste momento, entre a Rua 23 de Dezembro e a Avenida Perdigueira, que o destino agiu. Tudo aconteceu tão rápido que ninguém dentro do ônibus entendeu ao certo o que aconteceu. Uma freada brusca, um solavanco,  um momento geral de histeria, um poste. Alguém não teve as probabilidades ao seu favor naquele dia (ou simplesmente devia estar indo ao dentista, vai saber!), mas o ocorrido foi que ao tentar atravessar a rua, alguém encontrou um ônibus lotado em seu caminho, e ao tentar desviar, sem sucesso, o motorista da condução, um certo senhor Carlos, atropelou um homem e perdeu o controle do veículo, batendo bem de frente com um poste.
        Pessoas morrem todos os dias, é uma terrível realidade, mas acontece. E foi o que aconteceu com o homem, com o motorista que voou o para-brisa, e com o pedestre que passava ao lado do poste - que agora pendia ao chão. Mas Douglas não pensava nisso, só pensava na dor aguda que vinha de sua cabeça, provavelmente pela força com a qual ela encontrou o banco que estava em sua frente. Por alguns outros segundos ele também pensou na poça de sangue que se formava no chão ao seu redor, escorrendo pela testa e obstruindo a sua visão, mas, enquanto sua vista escurecia e ele descobria a sensação de perder os sentidos, com certeza, o que mais chamava sua atenção era aquela voz dentro de sua cabeça falando-o em tom exaltado: - Droga, não era pra isso ter acontecido! Vamos ter que consertar isso Zac. Douglas, não se preocupe, ainda não é a hora de você ir, e bem... Desculpe pelo transtorno.
Aquilo foi realmente estranho para uma tarde de terça-feira.